Tradução: “S03E20: The Spaghetti Catalyst (O Espaguete Catalisador)”

O clima esta noite (3 de Maio de 2010) é de frios 5.500° C. Em algumas regiões, as temperaturas nos próximos dias podem chegar a pouco mais de 8.300.000° C. Os ventos ultrapassarão a velocidade de 1.600.000 quilômetros por hora. Essa é a previsão do tempo. Se você viver na superfície do Sol.

Manter a correção da ciência em um episódio tipicamente envolve um pouquinho de pesquisa e, talvez, algumas anotações em um guardanapo. Mas o episódio desta noite envolvia grande prognosticação e sorte. Raj afirma que, hoje à noite, não há erupções solares. Tudo que eu precisava saber no começo de março, quando os roteiristas me enviaram essa fala, era que Raj estaria certo; isto é, que hoje à noite, quando o episódio fosse ao ar, não haveria partículas chegando à Terra por conta de erupções solares.

(Clique na imagem para ativar) Imagem do Sol com uma erupção solar feita pelo satélite SOHO, da NASA, com luz ultravioleta.

Por esse motivo, todos os dias durante as últimas semanas tenho lido a previsão do tempo espacial ansiosamente, esperando pelo melhor:

15 de abril:

“A atividade solar é muito baixa. Eventos de erupções solares não são esperados.”

Ufa. Em 16 de abril, a mesma coisa! E em todos os dias a partir de 17 de abril também. Por todo o resto do mês:

“A atividade solar é muito baixa. Eventos de erupções solares não são esperados.”

Mas então, houve uma pequena adição em 30 de abril:

“Há uma pequena região ativa no disco nordeste.”

Essa não. Então vi isso em 1° de maio:

Duas erupções de classe-C foram observadas ontem… Região não-numerada, N24 E68 (X=-800, Y= 400). Região Alfa. Possibilidade de erupção de classe-C. Posição aproximada.

Minha sorte tinha acabado.

Por que estou me preocupando? A previsão do tempo no começo deste artigo realmente descreve o Sol em atividade. Linhas de campo magnético no Sol podem se abrir subitamente, liberando enormes quantidades de energia, comparáveis a milhões de bombas atômicas em uma questão de minutos. Luz de todos os tipos atinge a Terra: desde ondas de rádio até raios-gama. (Meu projeto de graduação foi um experimento de cíclotrons para prever a proporção de raios-gama nas erupções solares). Pior ainda, partículas carregadas que estavam presas, como os elétrons, prótons e alguns núcleos atômicos, e previamente atreladas ao Sol pelos campos magnéticos, vazam por essa abertura e algumas delas chegam à Terra. É como se o Sol soltasse um peido gigante.

Imagem de raios-X do Sol tirada pelo satélite japonês Yohkoh. Ao contrário das imagens de raios-x do seu dentista, essa imagem não foi feita por meio da absorção de raios-X. Ao invés disso, gases quentes a temperaturas de milhões de graus durante as erupções solares emitem o padrão de raios-X fotografados.

Página do satélite Yohkoh

As partículas ejetadas chegam à Terra cerca de um dia depois e podem causar transtornos. Geralmente estamos protegidos da radiação das partículas carregadas pelo campo magnético da Terra, que as deflete. Contudo, elas ainda podem fluir pelas aberturas no próprio campo magnético terrestre, próximas aos polos, liberando explosões de energia que, na pior das hipóteses, podem interromper todos os tipos de radiocomunicações e redes de energia. As maiores tempestades podem ejetar matéria e campos magnéticos juntos. Esses campos magnéticos podem cancelar os terrestres, criando uma abertura para as prejudiciais e energéticas partículas ionizantes a níveis profundos da atmosfera, alcançando até mesmo o solo.

Apenas um dentre vários eventos solares famosos, no Halloween de 2003, uma forte tempestade solar interrompeu as comunicações por satélite e chegou até a destruir um satélite de pesquisa. Os astronautas da Estação Espacial se esconderam da melhor maneira que puderam, no mais absoluto interior da estação; ainda assim viram luzes piscando mesmo com os olhos fechados, pelo fato de os raios cósmicos terem cruzado e ionizado o humor vítreo de seus globos oculares. Em março de 1989, uma tempestade solar interrompeu as transmissões de energia elétrica e ocasionou um blecaute para 6 milhões de Québécois (habitantes de Québec). Em 1958, as radiocomunicações dos Estados Unidos para a europa foram cortadas. Mas talvez o evento mais trágico tenha sido a total interrupção de quatro minutos críticos durante a radiotransmissão da final de baseball entre os Pittsburgh Pirates e os Brooklyn Dodgers.

Pelo lado positivo, essas partículas carregadas produzem belos shows de luz quando ionizam o ar na atmosfera superior, criando as Auroras, que são cortinas de luz difusa tipicamente vistas somente próximas às regiões polares; no entanto, na noite de 11 de fevereiro de 1958, a Aurora pôde ser vista até mesmo em Los Angeles.

 

Aurora ("Luzes do Norte") produzida pelas partículas carregadas do Sol que atingem a Terra.

(Retirado de Astronomy Picture of the Day)

Os danos causados pela radiação das partículas de tempestades são um dos maiores perigos aos astronautas no espaço. Pessoalmente, me preocupo mais com eles pelos vazamentos de memória que ocorrem em programas desenvolvidos em C++.

A ausência de erupções solares no relatório de Raj havia sido uma boa aposta. Os astrofísicos do mundo inteiro têm se maravilhado com a ausência de atividade solar nos últimos anos. A NASA relata que o Sol não tem ficado tão quieto há quase um século.  Mas não tenha medo. A atividade solar segue um confiável ciclo de 11 anos. A cada 11 anos a orientação do campo magnético do Sol muda completamente de direção. Durante a mudança, o campo magnético torna-se instável e o número de tempestades solares aumenta drasticamente. Em 2012 e 2013, os astrofísicos solares preveem uma grande quantidade de tempestades, que irão interromper os serviços de GPS e, talvez, até mesmo a transmissão das Olimpíadas de 2012.  É melhor que os assinantes de TV por satélite comprem os DVDs da quinta e da sexta temporada na pré-venda desde agora.

É hora de ver os dados mais recentes sobre a atividade solar em 2 de maio, que nos permitirão saber se Raj irá acertar esta noite:

Um aglomerado instável de campos magnéticos emergiu sobre o horizonte nordeste do sol ontem, e está trepidando com erupções solares de classe-C.

Imagem tirada em 1º de maio deste ano da região atualmente ativa do Sol, com a qual me preocupo no momento.

Imagem feita por P. Lawrence em Spaceweather.com

Não parece bom. Mas erupções de classe-C estão dentre as mais fracas que temos. Os astrônomos amadores se divertem ao olhar para elas, mas elas não devem interromper o GPS de Sheldon e nem, de maneira mais importante, a sua recepção do episódio de hoje de TBBT.


Tradução feita por Hitomi a partir de texto extraído de The Big Blog Theory, de autoria de David Saltzberg, originalmente publicado em 3 de Maio de 2010.

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