Tradução: “S03E16: The Excelsior Acquisition (A Aquisição do Excelsior)”

Esta noite, Sheldon quer perguntar ao Stan Lee como o Surfista Prateado usa sua prancha de surfe prateada para alçar voos interestelares. E ele bem deveria perguntar mesmo! Ninguém, nem mesmo o Sheldon, sabe como viajaremos entre as estrelas.

O Surfista Prateado realiza viagens interestelares em sua prancha de surfe prateada. Como é que nós viajaremos?

Proxima Centauri é nossa melhor aposta. É a estrela mais próxima de nosso lar, orbitando a nossa própria estrela, o Sol. Proxima Centauri é uma anã vermelha sem qualquer notoriedade, devidamente batizada como proxima, do latim, que significa “adjacente a”, ou “aproximada”. Ela não tem esse nome por estar próxima a nós, e sim por estar próxima à estrela Alpha Centauri, uma estrela na constelação de Centaurus. Alpha Centauri é a terceira estrela mais brilhante no céu, mas isso se deve, em grande parte, ao fato de estar muito próxima. Talvez queiramos visitá-la algum dia. Afinal de contas, somos vizinhos, e ainda não levamos nenhuma cesta de frutas para ela.

“Próximo” é uma palavra engraçada de se usar para descrever distâncias interestelares. Proxima e Alpha Centauri estão tão distantes que a luz demora 4,2 anos para chegar lá. Nada do que conhecemos é capaz de nos permitir viajar mais rápido do que a luz, nosso limite de velocidade final. Até as transmissões televisivas do episódio piloto de The Big Bang Theory, que estão viajando à velocidade da luz desde o fim de 2007, estão apenas na metade do caminho até quem quer que seja que habite as rochas que orbitam aquelas estrelas. Nem mesmo o Hulu.com em Alpha Centauri tem o TBBT disponível ainda. (A vida próxima à Alpha Centauri tem esse ponto em comum com a Terra.)

Alpha Centauri, por ser tão brilhante, provavelmente já era conhecida pelos primeiros hominídeos que se preocuparam em olhar para o céu. Mas Proxima Centauri, por ser tão apagada, só foi descoberta com o uso de poderosos telescópios em 1915. E talvez não tenhamos terminado ainda. Estrelas ainda mais apagadas, conhecidas como anãs marrons, podem estar viajando pela galáxia até mesmo mais próximas a nós do que Proxima Centauri. Essas estrelas são tão frias, que você teria que procurá-las com luz infravermelha. Achar estrelas próximas como essas é uma das principais missões do recém-lançado satélite WISE. Quando contei a um dos escritores/produtores executivos do TBBT que em breve achemos estrelas mais próximas que Proxima Centauri, ele disse: “A Federação pode estar mais próxima do que imaginamos.”.

Proxima Centauri (a estrela vermelha, ao centro) é a estrela mais próxima conhecida, a 4,2 anos-luz de distância. (Se você gosta de gravuras de astronomia como essa, recomendo bastante que visite a seção de "Astronomy Picture of the Day" no site da NASA.)

Neste exato momento, já temos bastante pano pra manga somente com a questão da viagem interplanetária no nosso próprio sistema solar. Uma viagem tripulada a Marte, como a NASA imaginou recentemente, mesmo em seu ponto mais próximo, demoraria mais de 6 meses. Proxima Centauri está 750.000 vezes mais longe do que o ponto mais próximo de Marte em relação à Terra. À mesma velocidade, a viagem até lá demoraria mais de 250.000 anos. Nós temos que inventar algo mais rápido.

Suponhamos que nossos engenheiros humanos desenvolvam uma tecnologia que nos permita viajar a uma média de 1% da velocidade da luz até Proxima Centauri. Agora os astronautas precisariam passar apenas 400 anos numa nave. (Estou ignorando o pequeno benefício que seria obtido pela dilação do tempo, desacelerando o tempo de vida dos astronautas, como já discutimos antes na história de Paolo e Vincenzo.) Os astronautas não sobreviveriam até lá; contudo, se continuassem a ter filhos, a 16ª geração poderia chegar ao destino. Acho que as gerações intermediárias não ficariam muito felizes com seus ascendentes por as terem condenado a um voo solitário pelo espaço interestelar. Se uma geração se rebelasse e se recusasse a procriar, a missão falharia. Mesmo se os membros da 16ª geração conseguissem chegar com sucesso, eles mal seriam Terráqueos.

Acho que é possível provar que nós, humanos, nunca tentaremos fazer percursos interestelares até que saibamos como viajar a, pelo menos, 25% da velocidade da luz. (A misão até Marte discutida acima é só de 0,001% da velocidade da luz.) Suponhamos que uma missão até Proxima Centauri seja realmente realizada, com uma fantástica tecnologia nova, que nos levaria até lá a 1% da velocidade da luz. A viagem levaria 400 anos. Agora, suponhamos que em algum momento nos próximos 200 anos, uma nova tecnologia seja desenvolvida para aumentar a velocidade média anual para 2% da velocidade da luz. A julgar pelo ritmo do progresso tecnológico, não seria uma má aposta. Nesse caso, a espaçonave que seria lançada depois chegaria antes da espaçonave que foi lançada antes. Portanto, até que se desenvolva uma tecnologia que alcance uma fração razoável do limite máximo de velocidade, a velocidade da luz, ninguém se dará ao trabalho de realizar um voo prematuro. A velocidade teria de ser de, pelo menos, 25% da velocidade da luz a fim de quase garantir que isso não seria um problema. Ao menos, dessa maneira, a mesma geração que partisse da Terra chegaria ao destino. Talvez nunca seja possível, mas esse argumento demonstra que uma missão desse porte seria improvável até que esse feito seja possível.

Estas são as estrelas na sua vizinhança. Cada anel branco está a 1,7 anos-luz de distância do outro.

(Se algum espertinho quiser sugerir a alternativa dos buracos de minhoca ou algum outro tipo de tecnologia de curvatura do espaço, é melhor ter em mente que essas ideias não funcionam nem no papel.)

E isso tudo sem mencionar os outros obstáculos tecnológicos que devem ser ultrapassados. Mesmo viajando a apenas 1% da velocidade da luz, a espaçonave sofreria danos terríveis com os gases e a poeira interestelares. A proporção de raios cósmicos, partículas carregadas que vagam pelo espaço interestelar, provavelmente causaria câncer fatal a qualquer um que tentasse realizar essa missão, de forma que quando a tripulação chegasse ao destino já estaria morta há muitos anos.

Então vale a pena voltar e entender o que há de tão especial na prancha de surfe do Surfista Prateado para permitir o transporte interestelar. Frequentemente, os escritores de ficção científica têm ideias muito antes dos engenheiros e cientistas. Talvez, no caso do Surfista Prateado, haja uma ideia que passou despercebida por nós. Um ótimo ponto de partida para esse tipo de questionamento é o sensacional “The Physics of Superheroes“ (A Física dos Super-Heróis), de James Kakalios. No entanto, não é possível encontrar qualquer explicação a respeito do Surfista Prateado — talvez seja apenas pelo fato de o Surfista Prateado ter começado como um super-vilão, e não como um super-herói. Felizmente, alguém perguntou ao criador do Surfista Prateado, Jack Kirby, porque ele usou uma prancha de surfe. E ele explicou:

“Porque já estou cansado de desenhar espaçonaves.” – Jack Kirby

Excelsior!

David


Tradução feita por Hitomi a partir de texto extraído de The Big Blog Theory, de autoria de David Saltzberg, originalmente publicado em 1º de Março de 2010.