Tradução: “S03E21: The Plimpton Situation (A Situação de Plimpton)”

No mundo da música, a morte de uma estrela é antecedida por sexo, drogas e rock-n-roll. No Universo, a morte de uma estrela é antecedida pela extinção das reações de fusão nuclear em sua caldeira estelar. O resultado final frequentemente é um dos objetos mais fascinantes no universo, uma estrela de nêutrons pulsante ou, simplesmente,  “pulsar” .

Logo após descobrir os pulsares (enquanto ainda era uma aluna da pós-graduação, em 1967), disseram a Jocelyn Bell: "Senhorita Bell, você fez a maior descoberta astronômica do século XX.".

As estrelas de nêutrons são a chave para o que a Drª. Elizabeth Plimpton havia escrito em sua mão nesse episódio.

A Drª. Plimpton tem as coordenadas de quê?

A vida de uma estrela é um constante cabo-de-guerra. A força da gravidade nunca deixa de puxar toda a matéria da estrela para dentro, em uma tentativa de deixá-la menor e mais densa. Mas uma estrela mais densa aceleraria as reações de fusão nuclear, aumentando, assim, a temperatura da estrela. É como esquentar uma frigideira de jiffy-pop, o calor causa uma pressão para fora, na tentativa de tornar a estrela maior. Durante grande parte da vida de uma estrela, essas duas forças chegam a um ponto de equilíbrio, de modo que estrelas como o nosso próprio Sol permaneçam do mesmo tamanho por bilhões de anos.

No entanto, a gravidade sempre vence. Por enquanto, uma boa parte do brilho do nosso Sol se dá pela transformação do hidrogênio em hélio. Ao tornar o núcleo mais unido com essa reação, sobra a energia que produz a luz e o calor do Sol. Daqui a cerca de 5 bilhões de anos, após o esgotamento de seu hidrogênio, nosso Sol irá recorrer a uma energia alternativa, e passará a fundir o hélio em carbono e oxigênio, tornando-se muito maior e transformando-se brevemente em uma Gigante Vermelha (e, ao mesmo tempo, engolindo Mercúrio e Vênus e incinerando a Terra) durante esse processo. E é só, pessoal. Nosso Sol finalmente ficará sem energia e soprará o excesso de matéria para fora. O núcleo do Sol, agora desnudo, irá se esfriar silenciosamente. A gravidade puxará o núcleo cada vez mais, até que os elétrons no Sol não possam ser empurrados mais próximos uns aos outros. Os resíduos do carbono e do oxigênio são incrivelmente densos. Uma anã branca com a massa do Sol será apenas do tamanho da Terra. Na verdade, o Sol deixa de ser bem uma estrela, uma vez que já não produz sua própria energia. Ele brilha somente por irradiar a energia de sua vida passada, como uma Zsa Zsa Gabor cósmica.

Contudo, uma estrela mais massiva que o nosso Sol enfrenta um destino diferente. Uma estrela maior não desaparece silenciosamente; ela expele matéria em uma dramática explosão de supernova, seguida por um colapso gravitacional do núcleo restante. A pressão exercida pela gravidade é tão grande que os elétrons restantes em uma Anã Branca são empurrados para dentro dos prótons, formando nêutrons. A matéria estelar, então, é atraída ainda mais pela força da gravidade e forma um objeto tão denso quanto um núcleo atômico. Pelo fato de a maioria de sua composição ser de nêutrons, ele é chamado de estrela de nêutrons. Uma estrela de nêutrons com massa 3 vezes maior que a do Sol é tão pequena e densa que chega a ser menor que a cidade de Los Angeles.

Uma típica estrela de nêutrons é menor que Los Angeles e mais massiva que o Sol.

É tão densa que uma colher de chá da matéria de uma estrela de nêutrons pesaria, na Terra, o mesmo que uma montanha. Como a Drª. Plimpton afirma no episódio, se você apenas se aproximasse de sua superfície, seria esmagado por sua fortíssima gravidade. Isso se não tivesse cada um dos seus membros arrancado pelas diferentes forças que essa fortíssima gravidade exerceria em seu corpo.

Mas a vida de uma estrela de nêutrons está bem longe de acabar. Quando era uma aluna da pós-graduação, Jocelyn Bell e seu orientador, Anthony Hewish, descobriram erupções regulares de estática de rádio, que duravam de segundos a frações de segundo, e vinham de pontos específicos da galáxia. Descobriu-se que eram resíduos de estrelas de nêutrons que giravam muito rápido. Da mesma maneira que um patinador olímpico, quando está girando devagar, junta os braços ao corpo para girar mais rápido, o pequeno resíduo da estrela de nêutrons, originado de uma estrela que realizava sua rotação em algumas semanas, agora realiza sua rotação em alguns segundos, ou até mesmo mais rápido. Quando os polos da estrela de nêutrons apontam para nós, aqui na Terra, vemos uma erupção de rádio e outras luzes. Assim como a lâmpada de um farol produz um facho de luz para aqueles que estão no mar, nós vemos erupções de energia vindas do pulsar enquanto ele gira. Pelo trabalho que realizou neste assunto e em sua carreira, a Drª. Bell-Burnell recebeu o título de Dama do Império Britânico, a maior honra que um civil pode receber na Inglaterra.

Do mesmo modo que as lâmpadas giratórias de um farol produziriam um facho de luz regular para os navios, os viajantes cósmicos veriam esses pulsares, estrelas de nêutrons giratórias, como faróis brilhantes e regulares à distância. As espaçonaves Pioneer, lançadas na década de 70, estão deixando o sistema solar agora. E elas levam consigo nosso cartão de visita em uma placa folheada a ouro. Para instruir quem ou o quê o encontre a nos localizar, mostramos a eles a posição da Terra em relação aos pulsares, os faróis cósmicos que serão visíveis por todo o nosso lado da Via Láctea.

As placas levadas pelas espaçonaves Pioneer para além do nosso sistema solar mostram nossa localização em relação a 14 estrelas de nêutrons (pulsares).

Ouvi dizer que Carl Sagan se meteu em uma enrascada por ter colocado imagens de pessoas nuas no espaço. Então nas espaçonaves Voyager subsequentes, que no momento são as sondas espaciais mais distantes da Terra, decidimos enviar “o disco dourado”…

O "Disco Dourado" (clique para ouvir) a bordo das espaçonaves Voyager inclui "Os Sons da Terra". A capa ainda inclui a localização da Terra em relação aos pulsares próximos... mas sem as imagens de sacanagem.

…que envia nossas saudações com mensagens mais puritanas. O disco é a coletânea definitiva para nossos amigos alienígenas. Receio que se fôssemos lançar uma dessas sondas agora, ela só conteria um MP3 dourado. A Voyager 1 deixou o Sistema Solar e está 110 vezes mais distante do que a distância entre a Terra e o Sol, sendo nossa sonda mais distante. Ela deixará nosso sistema solar em 2015 e levará nossa mensagem ao espaço interestelar.

Porém, como Stephen Hawking ressaltou, talvez não tenha sido uma ideia tão boa assim. É só perguntar aos antigos astecas se eles se beneficiaram das visitas dos exploradores espanhóis. Mesmo se formos visitados por uma espécie pacífica, os visitantes podem inadvertidamente trazer micróbios aos quais nunca fomos expostos que poderiam nos dizimar. Talvez, esse seja até mesmo um produto inevitável de quaisquer contatos desse tipo. Se ainda não leu, realmente recomendo que leia a obra-prima de Jared Diamond (também da UCLA) intitulada Guns Germs & Steel (Armas, Germes & Aço), que dá uma base científica ao desfecho desses eventos históricos. Mas a faca tem dois gumes… Na Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, são nossos próprios micróbios que acabam matando os visitantes marcianos.

Então era a localização de um novo pulsar, uma nova estrela de nêutrons, que Elizabeth Plimpton havia escrito em sua mão nesse episódio. Um pulsar completamente novo (um “repetidor de raios-gama suaves” em RA 4h40m, Dec 55035′, que são, efetivamente, sua longitude e latitude no céu) foi anunciado no The Astronomer’s Telegram (Telegrama do Astrônomo) antes de o episódio ser gravado. Em outro easter-egg disponível àqueles que assistem a série em alta definição, reparem na referência ao excelente livro de ciência popular de Brian Greene, no título do livro da Drª. Plimpton: O Universo Efervescente.

Não importa o quanto nos escondamos, nossas transmissões de rádio e televisão já estão nos entregando, à velocidade da luz. Até o episódio desta noite já se encontra além de marte. Os extraterrestres podem nos encontrar facilmente, e já podem estar a caminho.


Tradução feita por Hitomi a partir de texto extraído de The Big Blog Theory, de autoria de David Saltzberg, originalmente publicado em 10 de Maio de 2010.